segunda-feira, 2 de março de 2009

Apesar de tudo

Não somos apenas nossas contas, nem nossas orações ou as horas passadas; nem somos essa solidão ou esse silêncio quebrado pelo brilho do céu. Não nos resumimos àquela música, àquela festa ou àquele beijo não dado, àquele momento passado, presente, futuro; o que somos não está contido apenas em números, senhas ou códigos alfabéticos. Nossos olhos não são placas, nossos sentidos não seguem o que orientam os dedos tortos dos que, em vão, tentam escrever certo;
Não somos nossos livros, nossas ideologias compradas em poemas escritos em paredes de metrôs ou portas de banheiros em aeroportos lunares, ou a filosofia discutida entre um trago e outro de cicuta.
Não somos os poemas-nossos ou o poema-dos-outros que elegemos como nossos; não! Somos mais que isso, apesar de nos querer limitar a isso. Somos mais que o cotidiano tenta nos limitar a ser, somos mais que um dia ruim ou mesmo uma manhã nublada. Estamos para além de nossas depravações mais puras, dos nossos pecados mais castos...
Não somos, como dizem por aí, sacos cheios de sonhos, angústias e desilusões, não apenas suportamos a vida, precisamos lembrar que também a construímos com palavras, angústias, desilusões e acima de tudo: Sonhos... Sonhamos o tempo todo, essa é nossa matéria básica, nossa pedra filosofal, nosso alicerce para a construção da vida que queremos ter, que será diferente da que temos, da que estamos cheios de ter. Por isso sonhamos com o que não conhecemos, alicerçamo-nos assim.
Não somos apenas isso. Somos mais. Frágeis onde se quer força, fortes onde se quer fragilidade. Onde a vida nos exige isso, damos aquilo em troca. Somos controversos, cheios de dilemas, bifurcações que nos fazem sentar à beira da estrada e se perguntar: pra onde?
Nem Fausto, nem Mefistófeles, nem tampouco um medíocre na foto ao lado... Somos uma matéria não determinada, somos um mistério para nós mesmos, sujeitos de ações muitas vezes indeterminadas.

Xico Fredson!

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